Falta de polinizadores reduziria vitaminas e aumentaria casos de câncer. Mudanças na dieta são fenômenos provocados por colapso de abelhas.
Abelhas estão diminuindo ao redor do mundo e cientistas ainda não descobriram motivo. (Foto: AFP Photo/Philippe Huguen )
O declínio mundial na quantidade de polinizadores – principalmente abelhas e outros insetos – pode causar até 1,4 milhão de mortes a mais por ano, um aumento de mortalidade mundial de quase 3%, segundo pesquisadores da Universidade de Harvard.
Esse crescimento na mortalidade seria resultado da combinação de um aumento da deficiência de vitamina A e ácido fólico (vitamina B9), vitais para mulheres grávidas e crianças, e um aumento da incidência de doenças não transmissíveis, como problemas cardíacos, acidente vascular cerebral (AVC) e certos tipos de câncer. Estes são os fenômenos que um colapso da população de polinizadores provocaria, através de mudanças na dieta dasa pessoas.
As deficiências em vitamina A e ácido fólico podem atingir os olhos, levando à cegueira, e causar malformação do sistema nervoso. Estes efeitos na saúde afetariam países desenvolvidos e em desenvolvimento.
As informações fazem parte de uma análise publicada nesta quinta-feira (16) na revista médica "The Lancet".
Menos pólen, mais doenças
De acordo com um cenário de completa eliminação de polinizadores, 71 milhões de pessoas em países de baixa renda poderiam encontrar-se deficientes em vitamina A, e 2,2 bilhões que já têm consumo inadequado teriam suas contribuições reduzidas ainda mais.
Para os folatos, seriam 173 milhões de pessoas que se tornariam deficientes e 1,23 bilhões de pessoas que veriam o seu consumo deficiente piorar.
Uma redução de 100% dos "serviços de polinização" poderia reduzir os estoques globais de frutas em 22,9%, legumes em 16,3% e 22,9% em nozes e sementes – mas com diferenças entre países.
Em suma, essas mudanças na dieta podem elevar as mortes anuais globais por doenças não-transmissíveis e aquelas relacionadas à desnutrição para 1,42 milhões de mortes por ano (2,7% da mortalidade total anual), de acordo com o estudo conduzido por Samuel Myers, da Universidade de Harvard.
Uma perda dos serviços de polinização limitada a 50% equivaleria à metade (700.000) da mortalidade adicional que implicaria a eliminação completa dos polinizadores, segundo as estimativas.
Zinco
Outro estudo, publicado na "The Lancet Global Health", quantifica uma ameaça específica, até agora nunca medida, para a saúde global de dióxido de carbono (CO2) devido à atividade humana.
Neste estudo, a redução do teor de zinco de culturas alimentares importantes, relacionadas ao aumento nas concentrações de CO2 na atmosfera, vai expor 138 milhões de pessoas ao risco de deficiência de zinco (nanismo, problemas imunológicos, mortes prematuras) em todo o mundo até 2050.
Além disso, com a Fundação Rockefeller, a revista "The Lancet" publicou um relatório sobre as mudanças ambientais "que vão além da mudança climática e ameaçam os progressos feitos em matéria de saúde nas últimas décadas".