Vinte dias. Esse teria sido o tempo que o jogador do Corinthians Malcom, de 18 anos, levou para tirar sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH) - o processo formal exige 45 horas/aula de curso teórico, 25 aulas práticas, sendo 5 noturnas, e exames médico e psicotécnico, o que leva pelo menos três meses. Malcom e mais 4.900 motoristas tiveram a carteira cancelada pelo Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran), por suspeita de fraude.
De acordo com o diretor-presidente do Detran-SP, Daniel Annenberg, o jogador teria pago entre R$ 2 mil e R$ 6 mil em um esquema em que ele é identificado como militar, categoria que não precisa passar pelo processo de permissão para emissão da CNH.
"Em uma entrevista, o jogador falou que ele teria conseguido uma autorização do Detran para dirigir, o que não existe. Além disso, o prazo era inviável para fazer todo o processo. Isso, lógico, levantou suspeita", afirmou Annenberg.
Fraudes como essas têm sido monitoradas pelo Detran. Só neste ano, ao menos 4.900 carteiras teriam sido emitidas dessa forma no Estado. "Uma Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito) fez 10 CNHs naquele código militar e no mês seguinte faz 100. Isso chama a atenção. Foi um trabalho de inteligência investigar esses 'buracos'." Funcionários do Detran que tinham autorização para aprovar o código de entidades militares foram afastados de suas atividades e estão sendo chamados para responder ao processo interno.
Caso seja comprovada a irregularidade, funcionários, autoescolas e motoristas envolvidos, como é o caso de Malcom, podem responder criminalmente por corrupção ativa e passiva e organização de quadrilha - crimes que podem levar à pena de dois a 12 anos de prisão e multa.
Como o caso vai além da esfera administrativa, o Detran solicitou o apoio da Polícia Civil nas investigações. Pelo cálculo do valor mínimo da fraude - R$ 2 mil -, estima-se que ao menos R$ 10 milhões tenham sido movimentados no esquema.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a assessoria do Corinthians afirmou que não vai se manifestar. A assessoria do jogador Malcom aguarda parecer dos advogados e disse que não vai se pronunciar por enquanto. À reportagem do SPTV, da Rede Globo, o jogador negou ter comprado a carteira.
No Corinthians desde criança, Malcom Filipe Silva de Oliveira cresceu nas categorias de base do Parque São Jorge. Com apenas 16 anos, foi o destaque da Copa São Paulo Junior de 2013, quando acabou como artilheiro da competição, e, em 2014, recebeu do então técnico Mano Menezes a chance de jogar no time profissional.
FONTE: UOL